Para o sucesso do tratamento endodôntico, é essencial a correta limpeza e modelagem do canal radicular, obtendo forma cônica semelhante à sua forma original, possibilitando as condições para que possa ser hermeticamente obturado. A etapa que sofreu grandes transformações nos últimos anos foi o preparo radicular com sistemas mecanizados, sendo um gradual “substituto” do preparo manual. Uma das grandes inovações em Endodontia foi a introdução do níquel-titânio (NiTi) para fabricação de instrumentos endodônticos devido à super elasticidade, que proporciona maior flexibilidade e resistência à fadiga cíclica, permitindo às limas de seguirem efetivamente o caminho original do canal radicular. Apesar das excelentes propriedades mecânicas da liga de NiTi, a separação de instrumentos continua sendo a preocupação principal. Entre os novos sistemas existentes, desde a introdução do NiTi, o sistema HyFlex® CM (Coltène – Whaledent), que é fabricado com um único processo térmico que fornece maior flexibilidade sem efeito de rebote, proporcionando melhor centralização no canal, maior resistência à fadiga cíclica e propriedades regenerativas que fazem que retorne a sua posição original. O objetivo deste trabalho é apresentar o sistema HyFlex® CM em diferentes condições anatômicas mostrando a sequência clínica e suas características através da apresentação de 3 casos clínicos.
Relato Caso 1:
Individuo de gênero masculino, de 40 anos, leucoderma, matriculado no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC-USP) com fissura labiopalatina e edêntulo parcial, foi encaminhado pelo setor de Prótese, para realizar o tratamento de canal do canino superior direito, dente 13. Ao exame clínico bucal foi observado que não apresentava sintomatologia dolorosa, o dente se encontrava com perda de estrutura coronária. Ao exame radiográfico periapical apresenta-se sem alterações na região periapical (Figura 1), aos testes de percussão vertical e horizontal apresentou resposta negativa, e ao teste de sensibilidade com gás refrigerante (EndoFrost – Roeko) com resposta positiva. Foi planejado o tratamento endodôntico por finalidade protética em única sessão (Biopulpectomia). Após anestesia infiltrativa com mepivacaína a 2% e isolamento absoluto com arco de Ostby (Jon), lençol de borracha (Roeko – Coltène) e grampo no 208, procedeu-se com o acesso da câmera com broca esférica diamantada no 1012 (KG – Sorensen) e os desgastes compensatórios com broca rotatória LA Axxess no 2 LASS, com ponta 0,35 (SybronEndo) com a câmara inundada com hipoclorito de sódio a 1%. Para estabelecer o comprimento de trabalho foi utilizado localizador eletrônico foraminal Root ZX II (JMorita) com lima K Flexofile # 20 (Dentsply – Maillefer) confirmado com a radiografia de odontometria (Figura 2). A instrumentação foi realizada com o sistema HyFlex® CM™ (Coltène – Whaledent), com a sequência: 25/0,08, 20/0,04, 25/0,04, 20/0,0,06, 30/0,04 e 40/0,04 e complementada com duas limas adicionais: 45/04 e 50/04, acionado com motor rotatório X-Smart (Dentsply – Maillefer) a 500 rpm e com torque de 2,4 Ncm, irrigando entre cada instrumento com hipoclorito de sódio a 1%. Terminada a instrumentação o canal foi condicionado com EDTA a 17% (Biodinâmica) durante 3 minutos e em seguida, neutralizado com soro fisiológico. A obturação foi realizada utilizando cone de guta-percha principal # 50 com conicidade 0,04 (Tanari) e cimento AH Plus (Dentsply – Maillefer). Foram colocados cones secundários B7 (Tanari) passivamente e condensação vertical para complementar a obturação no terço cervical (Figura 3, 4 e 5). O acesso foi selado com ionômero de vidro restaurador Maxxion R (FGM) e encaminhado para reabilitação final.
Relato Caso 2:
Individuo de gênero feminino de 30 anos, leucoderma, matriculada no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC-USP) com fissura labiopalatina, encaminhado pelo setor de Dentística para avaliação do segundo molar superior esquerdo, dente 27. Apresentava dor espontânea, pulsátil, exacerbada com água fria. Ao exame clínico bucal apresentou lesão cariosa ocluso-distal extensa. Ao exame radiográfico periapical apresenta-se sem alterações na região periapical, extensa lesão cariosa com aparente comprometimento pulpar e curvatura severa na raiz mésio-vestibular (Figura 1), aos testes de percussão vertical e horizontal apresentou resposta positiva com dor. Foi diagnosticado pulpite irreversível sintomática, foi planejado tratamento de canal em sessão única (Biopulpectomia). Após anestesia infiltrativa com articaína a 4% e isolamento absoluto com arco de Ostby (Jon), lençol de borracha (Roeko – Coltène) e grampo no 26, procedeu-se com o acesso da câmara pulpar com broca esférica diamantada no 1014 (KG – Sorensen) e os desgastes compensatórios e desgaste do terço cervical na raiz mésio-vestibular com broca rotatória LA Axxess no 1 LASS, com ponta 0.20 (SybronEndo) com a câmara inundada com hipoclorito de sódio ao 1%. Foi utilizado as limas manuais tipo K #10 e 15, e limas rotatórias Hyflex® GPF™ (Coltène – Whaledent), para permeabilizar os canais vestibulares até o comprimento de trabalho provisório obtido pelo método de Ingle. Para estabelecer o comprimento de trabalho foi utilizado localizador eletrônico foraminal Root ZX II (JMorita) com limas K Flexofile (Dentsply – Maillefer) # 20 nos canais vestibulares e # 25 no canal palatino, confirmado com a radiografia de odontometria (Figura 2). A instrumentação foi realizada com sistema Hyflex® CM™ (Coltène – Whaledent), com a sequência: 25/0,08, 20/0,04, 25/0,04, 20/0,06, 30/0,04 e 40/0,04. Os canais vestibulares instrumentados até o instrumento 30/0,04 e o canal palatino até 40/0,04. Terminada a instrumentação os canais foram condicionados com EDTA a 17% (Biodinâmica) durante 3 minutos e em seguida neutralizado com soro fisiológico. A obturação foi realizada com técnica de cone único, utilizando cones de guta-percha # 30 nos canais vestibulares e # 40 no canal palatino, todos com conicidade 0,04 (Tanari); e cimento AH Plus (Dentsply – Maillefer) (Figura 3). O acesso da câmara pulpar foi selado com ionômero de vidro restaurador Maxxion R (FGM) e encaminhado para restauração final.
Relato Caso 3:
Individuo de gênero feminino, de 27 anos, leucoderma, matriculado no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC-USP) com fissura labiopalatina, foi encaminhado pelo setor de Prótese, para realizar o tratamento de canal do molar inferior esquerdo, dente 36. Não apresentava sintomatologia. Ao exame clínico bucal, o dente se encontrava com grande perda de estrutura coronária. Ao exame radiográfico periapical apresenta-se sem alterações na região periapical (Figura 1), aos testes de percussão vertical e horizontal respondeu negativamente, e ao teste de sensibilidade com gás refrigerante (EndoFrost – Roeko) com resposta positiva. Foi planejado o tratamento endodôntico por finalidade protética em única sessão (Biopulpectomia). Após anestesia infiltrativa com mepivacaína a 2% e isolamento absoluto com arco de Ostby (Jon), lençol de borracha (Roeko – Coltène) e grampo no 205, procedeu-se a com o acesso cameral com broca esférica diamantada no 1014 (KG – Sorensen) e os desgastes compensatórios com broca rotatória LA Axxess no 1 LASS, com ponta 0,20 (SybronEndo) com a câmara inundada com hipoclorito de sódio a 1%. Para estabelecer o comprimento de trabalho foi utilizado localizador eletrônico foraminal Root ZX II (JMorita) com lima K # 15 (Dentsply – Maillefer) nas raízes mesiais e lima K# 25 na raiz distal, confirmado com a radiografia de odontometria (Figura 2). A instrumentação foi realizada com o sistema HyFlex® CM™ (Coltène – Whaledent), com a sequência: 25/0,08, 20/0,04, 25/0,04, 20/0,0,06, 30/0,04 e 40/0,04. Os canais vestibulares instrumentados até o instrumento 30/0,04 e o canal palatino até 40/0,04. acionado com motor rotatório X-Smart (Dentsply – Maillefer) a 500 rpm e com torque de 2,4 Ncm, irrigando entre cada instrumento com hipoclorito de sódio a 1%. Terminada a instrumentação os canais foram condicionados com EDTA a 17% (Biodinâmica) durante 3 minutos e em seguida, neutralizado com soro fisiológico. A obturação foi realizada com técnica de cone único, utilizando cones de guta-percha # 30 nos canais mesiais e cone # 40, todos com conicidade 0,04 (Tanari); e cimento AH Plus (Dentsply – Maillefer) (Figura 3, 4 e 5). O acesso foi selado com ionômero de vidro restaurador Maxxion R (FGM) e encaminhado para reabilitação final.
Conclusão:
Podemos concluir que o desenvolvimento do novo sistema rotatório de níquel-titânio de memória controlada, HyFlex® CM, pode ser utilizado na instrumentação de canais radiculares com uma sequência simplificada e apresenta ótima flexibilidade preservando a anatomia original do canal. Estas características permitem a realização do tratamento de canais radiculares de maneira mais eficaz, rápida, segura e com qualidade.